O REI SAUL ficou angustiado, quando viu o jovem Davi
surgir como seu sucessor. Sentiu que aos poucos o poder escorria de suas mãos.
No auge do seu desespero, consultou uma feiticeira, e diante dela confessou:
“Estou muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se
tem desviado de mim e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas,
nem por sonhos; por isso, te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de
fazer” (1 Sm 28.15). Na verdade, Saul gostaria de continuar como rei até o fim
da vida.
O desespero de Saul tem conotação
espiritual, porém está patente que, mesmo antes de ser substituído, já padecia
diante da perspectiva de perder a coroa de rei.
Para muitos governantes, é doloroso ter
que assimilar e administrar o fim de um mandato. Não é fácil perder as benesses
palacianas, aplausos e reverências, encômios, abraços e principalmente o poder.
Regra geral, os políticos escondem a
síndrome, ou tentam faze-lo. Para eles, falar abertamente da solidão do poder
demonstra fraqueza.
No Brasil, temos o exemplo dado pelo
presidente Lula, com suas próprias palavras: “Se eu pudesse, não passaria a
faixa presidencial. Sabe, sairia com ela pelos fundos do palácio”. Esta é a
síntese de um sentimento de perda que cresce na medida em que se aproxima o dia
D, o dia da entrega do cargo. A revelação foi em tom de brincadeira, mas creio
nas suas palavras: “Do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt
12.34). A síndrome se instalou em sua alma muito antes de passar a
faixa presidencial à sucessora Dilma.
A síndrome dessa abstinência não é
privilégio dos homens públicos. Em maior ou menor grau, dependendo das
idiossincrasias de cada qual, ocorre em todas as áreas da atividade humana. Poderá acontecer com executivos, gerentes de
banco, sacerdotes. Aposentados há que recorrem à psicologia para
superarem os transtornos causados pela repentina inatividade.
Transtornos dessa espécie
podem ser aliviados ou superados quando se tem consciência de que a vida é como uma
nuvem que passa. É efêmera como efêmeros são os cargos que ocupamos. Os cargos
não são permanentes. Quem não aceita essa realidade passará por problemas
existenciais. Não tratados convenientemente, poderão causar sérios transtornos.
Pr. Airton Evangelista da Costa
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